Relato de uma experiência com um grupo de idosos
Por Marla Fernanda Bastos Lima
Aluna do 6o. período do curso de Psicologia da UNIFEV
Uma das possibilidades da graduação é se colocar diante de situações que antes pareciam impensadas por nós. Nunca pensei um trabalho com pessoas idosas. Mas, juntamente com outras companheiras do curso e com a supervisão da professora Ana Paula Araújo Fonseca desenvolvemos e ainda estamos desenvolvendo um trabalho com um grupo de idosos que freqüentam a UNIATI (Universidade Aberta da Terceira Idade) da UNIFEV.
A princípio me senti um pouco perdida, receosa do que dizer. Parecia existir uma barreira entre as diferenças de idade. Porém, quando o trabalho é desenvolvido com cuidado e coerência essas barreiras são derrubadas.
Nosso trabalho consistiu em, um primeiro momento, conhecer as problemáticas do grupo e a partir daí nos direcionamos. Fizemos atividades, como: dinâmicas, discussão de texto e música que traziam como tema as relações interpessoais. Ressaltando a importância de se manter contato com as pessoas e com a vida. Para isso algumas habilidades sociais foram treinadas, como empatia e assertividade.
Os resultados destas atividades demonstraram que houve mudanças significativas dentro do grupo, como ouvir atentamente o relato do outro, respeitar seu momento de falar, bem como as opiniões divergentes. Além disso, houve relatos de mudanças nos relacionamentos familiares, onde eles passaram a elogiar o que percebiam de bom em sua família e demonstraram compreender seu papel de agente nas relações e não mais como vítimas de sua própria história de vida. Relataram ainda que expressar os sentimentos e contar sobre suas vidas trouxe alívio e compreensão de fatores acerca de seus repertórios comportamentais.
Concluímos que o enfoque dado às habilidades sociais na velhice pode contribuir positivamente nas relações interpessoais junto a essa clientela e promover situações potencializadoras de desenvolvimento, alterando a visão de velhice como período de perdas e estagnação.
Hoje trabalhamos com temas mais direcionados à velhice: os estereótipos de velhice, sexualidade, família etc. A proposta inclui discussões baseadas em filmes, vídeos, textos, entre outros materiais.
O mais rico de tudo isso é ouvir experiências de diversas pessoas, a oportunidade de, a cada encontro, saber um pouco mais da história de pessoas que tiveram experiências diferentes das nossas e poder aprender com isso.
Os reforçadores do grupo são imprescindíveis para o nosso empenho. Os elogios às atividades que trazemos e a nossa atuação no grupo são incessantes e isso me alegra e me torna orgulhosa das possibilidades e importância da Psicologia para qualquer idade, área ou forma de trabalho.
Tal experiência me fez construir um novo modelo de velhice. Onde percebemos autonomia, possibilidades de ação, aprendizagem e desenvolvimento. Pois, enquanto estivermos vivos, em contato com as pessoas e com o mundo, estaremos sempre em desenvolvimento.
Bater Como Prática Educativa
Por Gabriele Lima Gualda
Aluna do 8o. período do curso de Psicologia
Quem é que nunca levou uns “safanões”, “petelecos” por ter cometido alguma atitude que os pais julgam errada? Provavelmente todos. No entanto, os pais/cuidadores exercem o bater como prática educativa especificamente a violência doméstica, que é muito comum.
As professoras Dra. Maria Amélia Azevedo e Viviane Guerra (USP/SP - 1989) definem a violência doméstica como sendo "todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e/ou adolescentes que - sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima implica de um lado, numa transgressão do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento".
Dentre as várias justificativas para a perpetuação desta prática pode-se destacar que ela é tida pelos cuidadores e agressores, como prática educativa, de correção para algo que as crianças tenham feito e julgada por eles como errada ou inadequada; além disso, é o modelo que vem sendo passado de geração em geração. Segundo os estudos de Weber, Viezzer & Brandenburg (2004) 66% dessas crianças e adolescentes concordaram com a idéia de que, quando fazem coisas erradas, as crianças devem apanhar. Isso indica que muitos filhos estão herdando o conceito de que o bater é necessário para a educação. É assim que essa prática educativa vai passando de geração em geração.
“Outra pesquisa, feita no SOS - Criança de Curitiba mostra que a punição física pode ultrapassar limites e transformar-se em violência (Weber e cols, 2002). Os resultados desta pesquisa mostram que o agressor alegou que estava educando e corrigindo o comportamento da criança ou adolescente (52%). Entre os 400 registros de denúncia estudados nesta pesquisa, pouco mais da metade foi de pais que agridem seus filhos pensando estar educando” (WEBER, 2004).
Esse modelo passado de geração em geração, ou melhor, essa prática cultural, “envolve a repetição de comportamento operante análogo entre indivíduos de uma dada geração e entre gerações de indivíduos” (Glenn, 1991); assim “quando relações comportamentais que definem parte do conteúdo do repertório de um organismo são replicadas nos repertórios de outras pessoas, em um sistema sociocultural, o comportamento replicado é chamado prática cultural” (Glenn e Malagodi, 1991) apud Andery e cols 2005.
Um terceiro fator que favorece essa prática, é que a punição corporal está enraizada na cultura de diversas populações e além de ser passada pela família, também é transmitida como “verdade inquestionável;” como podemos ver nos provérbios bíblicos: “Não poupes ao menino a correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá; castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos” (Bíblia Sagrada, Provérbio 23: 13-14). “Ama as crianças com o coração, mas educa-as com a mão” (provérbio russo).
Segundo Martone e Banaco (2005), as práticas culturais são compostas de contingências comportamentais entrelaçadas – são as metacontingências, que descrevem a relação entre as práticas culturais e seus produtos. São essas contingências entrelaçadas que permitem aos seres humanos agirem no ambiente em conjunto, possibilitando uma série de conseqüências que não seriam possíveis de serem produzidas somente pela ação de um único indivíduo.
Essa prática é um problema porque, apesar da punição física apresentar efeito imediato sobre o comportamento, Skinner em (1953/1973) já apresentava como efeitos nocivos dessa prática o medo, a raiva e a esquiva. Além disso, o autor também enfatiza que por conta dessa punição o comportamento adequado não aparece e é muito provável que os pais passem a repetir esse comportamento de bater como punição, e o que acontecem (na maioria dos casos), os pais aumentam a intensidade e também a força com o que fazem.
Há também a possibilidade de ocorrer o condicionamento do comportamento de fuga e esquiva, através do reforçamento negativo, ou seja, o agredido passa a evitar ou fugir do agressor para se livrar ou minimizar o contato com o estímulo aversivo, no caso o agressor. Segundo Weber e cols (2002), o comportamento inadequado continua presente no repertório da criança, mas deixa de ser punido quando ela se esconde ou mente para os agressores.
Existe ainda outro aspecto importante em relação ás punições, estudadas pela Análise do Comportamento, o fenômeno chamado desamparo aprendido. (Seligman, 1975/1977) apud Weber e cols (2002). O desamparo aprendido é a incapacidade de aprendizagem de novas respostas de esquiva diante de uma história de exposição a estímulos aversivos não contingentes a qualquer resposta. Se as punições, especialmente corporais, não são contingentes e dependem do humor dos pais, pode acontecer que ocorra o fenômeno de desamparo, e a criança simplesmente não saiba o que fazer, não saiba qual resposta deverá emitir para evitar as punições. (WEBER e cols, 2004) e possivelmente generalizará para outras situações aversivas.
As conseqüências diretas causadas à saúde físicas e psicológico-emocionais podem ser vistas a curto, médio e longo prazo, isso vai depender da intensidade com que a punição ocorre e como ocorre. A de curto prazo seriam as luxações, fratura, hematomas, queimaduras. Essas lesões ocorrem através da utilização de cintos, pedaço de ferro, chinelo, cigarro, água quente.
Já as conseqüências psicológicas aparecem a médio e longo prazo, entre elas podemos citar: ansiedade, timidez, dificuldade de relacionamento, agressividade, distúrbio do sono e apetite, baixa auto-estima.
O castigo físico foi tolerado durante muitos séculos e os métodos pedagógicos, em que se utilizavam varas e palmatórias, eram justificados com pensamentos que indicavam que o mal precisava ser expulso da criança, como mostrava Santo Agostinho: "Como retificamos a árvore nova com uma estaca que opõe sua força a força contrária da planta, a correção e a bondade humanas são apenas o resultado de uma oposição de forças, isto é, de uma violência".
Mas as palmadas são geralmente dadas para aliviar aqueles que batem; os pais descontam nos filhos suas irritações presentes ou mesmo passadas (pais que apanharam na infância) e torna a agressividade um círculo vicioso (Cornet, 1997). E assim descarregam sua raiva nelas, consequentemente a punição física deixa de ter um caráter educativo, para transformar-se realmente em falta de controle dos pais e agressão.
Isso também ocorre pelo fato dos pais desconhecerem uma prática alternativa para a educação e que seja eficaz para educar, desenvolver e manter um repertório de comportamentos adequados. Para os pais é muito difícil usar o reforço positivo para comportamentos adequados e corretos, na verdade eles não conseguem identificá-los e ensiná-los é freqüentemente complexo e demorado.
Por fim, é papel do psicólogo abordar questões quem envolvam a educação dos filhos, tanto no contexto escolar, quanto em grupos de Unidades Básica de Saúde, ou qualquer outro ambiente, isso porque trabalhar a educação consiste em promover novos conhecimentos, nossas alternativas, novas práticas. O profissional que busca trabalhar esse tema com pais, deve sinalizar para os genitores alguns aspectos relevantes para a mudança de sua prática: a) mostre à criança o comportamento mais adequado dando você o próprio exemplo; b) evite tapas, palavrões ou insultos; c) converse com a criança no mesmo nível dela, e não envolva pessoas desnecessárias na hora de corrigir; d) ouça a criança, dê importância as suas opiniões e idéias; d) lembre-se de valorizar e reforçar os aspectos positivos do comportamento da criança; e) seja claro ao expressar os comportamentos que não gosta e que te aborrecem; f) peça desculpas quando necessário; e g) e sempre leve em consideração a fase do desenvolvimento em que ela se encontra.
Auto Avaliação de Desempenho
Por Alexandre Venâncio de Souza
Aluno do 8º Período de Psicologia da UNIFEV
Não é uma tarefa, digamos... fácil, auto-avaliarmos nosso desempenho. A princípio, esta tarefa levará invariavelmente ao que temos ainda mais dificuldade e, tememos como um daqueles seres mitológicos que assombraram nossa infância, qual seja o autoconhecimento, ou ainda, o “conhece-te a ti mesmo” inscrito na entrada do templo de Delfos, fonte de inspiração de Sócrates. Devo confessar que, desde o início do curso de Psicologia, passei por algumas fases distintas na forma de me relacionar comigo e, com o mundo à minha volta. No início, a preocupação narcísica de mostrar o próprio valor e, depois a dedicação e empenho, em manter o status de bom aluno, mas para que? A que custo? Há pouco, percebi que existe vida após o curso de graduação e, por mais que me esforce e me desgaste, não sairei do curso sabendo tudo quanto gostaria. De certa forma, isso me conforta e acalma, deverei continuar estudando sempre, pesquisando, lendo muito e aprendendo... Aprendendo enquanto o equipamento fisiológico permitir, isso me agrada. Está aí um bom sentido para a vida, aprender... mas, melhor ainda será, aprender a usar todo esse conhecimento, com tanta sabedoria quanto possível for ao meu frágil intelecto. Aprendi que o sentido do estudo é aprender... estudar buscando aprender. Simples assim! E os louros e glórias dos melhores resultados? Ah... esses passam! Perdem-se no passado e caem no esquecimento. Mas o aprendizado... esse fica. O conhecimento transforma o ser, amadurece, o faz crescer e, se utilizado em benefício do outro, tornará o ser, humano. Agora estou aprendendo a confiar no outro, aceitá-lo da forma como é, sem cláusulas ou exigências descabidas que agradem meus caprichos. Em algum momento deste processo de aprendizagem, eu ouvi o outro, apenas ouvi! E me apaixonei em escutar. Escutar sem, no entanto, esperar ansioso a minha vez de falar. Apenas escutar o que o outro tem a dizer. Estou feliz de ter despertado a tempo. Em tempo de reajustar o rumo e, curtir a graduação, a Psicologia, os amigos e os professores. Ah... já ia me esquecendo! Acredito que meu desempenho na apresentação da mini-aula sobre Orientação Profissional mereça uns 8. Está de bom tamanho... tenho muito a aprender... e, isso me agrada.